PEBA: PELA LIBERDADE DE UM CORPO SINCERAMENTE ORDINÁRIO
Num elogio à gambiarra e à fuleiragem como força de criação, a bailarina e performer Iara Sales e o músico-performer Tonlin Cheng transformam em espetáculo e movimentos compartilhados suas andanças, cicatrizes e memórias em temporada itinerante com 12 apresentações de PEBA. Tem na próxima quarta (26) e sexta (28), às 20h, no Daruê Malungo, em Chão de Estrelas e continua em setembro e outubro em outros espaços culturais do Recife.
Nesta quarta (26) e na próxima sexta
(28) acontecem novas apresentações da temporada itinerante do espetáculo PEBA.
Ambas serão realizadas às 20h, na ONG Daruê Malungo, em Chão de Estrelas e a
entrada é gratuita. A caminhada continua em setembro e outubro, com encenações
no espaço O Poste soluções luminosas, na Rua da Aurora, dias 03, 04, 10 e
11/09; no atelier Arte da Terra, em Casa Forte, dias 17 e 18/09 e na galeria
Janete Costa/Parque Dona Lindu, em Boa Viagem, nos dias 10 e 11 de outubro. Já
foram realizadas em julho duas apresentações na Galeria Capibaribe - CAC/UFPE,
encerrando a programação do projeto Solo no CAC, da Universidade Federal de
Pernambuco. Até o final da temporada serão ao todo 12 apresentações, incluindo
ainda a realização do seminário “Fuleiragens na fronteira”, dia 16 de setembro,
das 19h às 21h, também no CAC/UFPE. As apresentações da próxima semana serão
gratuitas, porém, como política de discussão sobre a sustentabilidade do ser artista,
a partir de setembro haverá três valores de ingressos disponíveis para o
público. O ingresso social por R$ 5,00, o ingresso justo por R$ 20,00 e o
ingresso abundante, para quem quiser contribuir mais, a partir de R$ 21,00.
O nome PEBA joga com as siglas dos
estados Pernambuco e Bahia, mas é também uma palavra indígena que significa:
baixo, nanico, anão, curto das pernas (geralmente usada para animais) – peba,
peva, péua, nanipeba e nhapeua. Nas gírias entre Pernambuco e Bahia, “peba” é
também um adjetivo usado para indicar precariedade ou baixa qualidade, como um
produto de fabricação ruim e barata, mas que resolve ainda que provisoriamente
uma demanda emergente. PEBA faz assim, em cena, emergir uma fuleiragem boa
traduzida tanto na corporeidade dançada como na cenografia e arquitetura sonora
do espetáculo, montadas a partir de amarrações, gambiarras, reaproveitamento de
caixas de som e outros objetos rearranjáveis em cada espaço performado.
O espetáculo PEBA nasce de uma
proposta entre dança, performance e arquitetura sonora de Iara Sales (PE) e do
músico-performer Tonlin Cheng (PE), além da presença criativa de Sérgio Andrade
(RJ/BA), dramaturgista e diretor da obra. A pesquisa investe numa corporalidade
peba, que, sorrateiramente, transita entre brincadores, folguedos, ruas e
festas dos estados de Pernambuco (PE) e Bahia (BA). Entre manifestações
(extra)cotidianas, territórios, memórias e subjetividades Iara Sales e Tonlin
Cheng tomam a fronteira como um interstício de heterotopias [ou desutopias] no
corpo: nem Pernambuco nem Bahia, PEBA pode ser outro e está por ai.
Transitando o tempo todo entre, num
espaço cênico onde o público se distribui desorganizadamente e se desloca sem
regras, onde os tecidos e peles são obrigados a trocar suores, toques e espasmos,
Iara nos empurra para dentro da sua folia, do seu calor, das suas descobertas,
dos seus questionamentos, dores, euforias... E sem nem nos darmos conta da
transição, o que é dela passa a ser nosso e de outros pés e rostos brincantes
de tantas existências por dentro das raízes que nutrem essa dança,
pertencimento e estranhamento pulsando juntos e em fluxo contínuo. O riso, o
choro, a crítica, o assombro, tudo isso está presente no corpo de Iara Sales.
Buscando investigar o que há de artesanal, chulo, grotesco e despretensioso no
corpo brincante, que nem se deixa enquadrar em cânones da tradição nem
cooptação do mercado da cultura popular, Iara Sales, Tonlin Cheng e Sérgio
Andrade encontraram um mundo de imagens, sons, gestos... Como essa corporeidade,
mesmo denegada, constitui e transmuta o jeito do corpo brincante sempre por
vir? Como o trânsito incessante de referências, ou a desterritorialização da
cultura, produzem efeitos sobre o que se chama de cultura popular? Essas são
algumas perguntas que nortearam a pesquisa a partir do jogo entre memórias,
subjetividades, fronteiras e referências de culturas e linguagens.
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